Estava certo mesmo o cara da relatividade do tempo, e mais certo ainda Douglas Adam, que sabiamente escreveu: “O tempo é uma ilusão. A hora do almoço é uma ilusão maior ainda”. (Essa tradução perde o uso de “time” duas vezes do inglês, que, para mim, dá o humor da frase. Eu talvez teria traduzido como: “O passar das horas é uma ilusão. E da hora do almoço, mais ainda”. Sim, eu sempre vou enfiar tradução em qualquer assunto.) E o passar das horas de férias, então, gente? Não há teoria que explique.
Essas férias me fizeram lembrar do porquê eu reluto para tirar férias: eu acostumo fácil ao dolce far niente, acordar cedo e poder enrolar na cama, tomar café devagar, ler algumas páginas e só então trocar o pijama por roupa. Nenhum e-mail cobrando prazo, nenhum problema que requer minha atenção, uma quantidade “normal” de abas abertas no navegador, nenhuma lista de tarefas à vista.
O engraçado hahaha é que eu gosto de trabalhar. Eu amo trabalhar e sinto falta de fazer minhas coisinhas, sabe, mas aí é que tá: (silêncio: a gen X está compreendendo os males do capitalismo) eu queria só poder fazer minhas coisinhas, assim como todas vocês, todos nós, todo o planeta, EU SEI.
Falei num grupo de amigas que, nesses 20 dias de férias, desacelerei de tal maneira que estou receosa que não conseguir engatar a 1ª marcha na segunda-feira, com medo de não conseguir dar conta de tudo o que tenho já agendado, fora o que costuma desabar do céu sobre meus ombros.
E uma das minhas metas para este ano é não ficar doida, ao menos não com o que eu puder evitar, então não farei nenhum curso (veja bem, curso não é oficina, clube de leitura não é curso, e estudar coreano não é curso, é meta de vida, tá tudo positivo e operante), mas tem todo o resto (gesticula com as mãos para a sala, o apartamento, a rua, o bairro etc.).
Inspira.
Expira.

No dia 02 de janeiro de 2023, escrevi na agenda novinha:
“Voltar a Porto Alegre é bom, aqui é casa, mas São Paulo é ninho.”
(Foi a única coisa que escrevi na agenda no ano todo, mas não é disso que quero falar.)
Eu sempre consegui sonhar, planejar e abrir minhas asas para voar porque eu sabia que, se caísse, teria onde ser acolhida. Mesmo que meus pais nem sempre entendessem minhas escolhas, eles me apoiaram como puderam.
Ainda hoje eu sei que é assim: o pouco que minha mãe tem, está sempre disponível para mim, meu irmão e os netos dela.
Isso é um privilégio imenso.
Comecei o texto acima em janeiro de 2024 e deixei ele de lado porque eu não sabia o que eu queria falar de verdade. Um ano depois, retomo ele em Porto Alegre, tendo voltado de São Paulo há dois dias. Dois anos inteiros para tentar elaborar o que é casa, e, spoiler: não é neste texto que consigo.
Como falei já em outra cartinha, fiquei pensando na vila que dividiria cuidados de casa, de crianças, de listas, e pensando nisso coloquei uma pequena meta para meu ano, mas essa fica na parte das metas não divulgáveis, só minha comigo mesma, e sei lá onde vai dar, se é que vai andar.
***
O timer do tempo do cozimento do feijão apita alto, e sou trazida de volta para a lista de tarefas que, mesmo ainda estando de férias, tenho a cumprir, já que não existe férias de algumas coisas, e esta cartinha fica por aqui.
Lembrando você que curtir e comentar minhas cartinhas ajuda muito o meu trabalho!
Eu sempre me questiono sobre o que é casa pra mim... Nunca consigo consigo responder... por anos SP foi meu refugio, hoje nao é mais. Talvez hoje eu seja minha propria casa e meu refugio, nao sei.
Sobre a facilidade de entrar na vibe Dolce far niente, eu te entendo! É tao dificil pra mim entrar em uma rotina calibrada, porque o fazer tudo na calma, sem horario é meu lugar comum... Delicia te ler Taty!
Estou aqui já com ansiedade porque volto a trabalhar na terça e acho que esqueci como que trabalha hahaha e sim, eu também gosto do meu trabalho, mas a obrigação de cumprir horário cansa ne