Desisti de contar quantos textos começados eu tenho. Contos, crônicas, poemas, traduções, ensaios (ou ao menos tentativas de ensaios). Anda me faltando um teto todo meu, mas teto sendo tempo
Tenho andado cansada demais e com trabalho demais e com perrengue real para conseguir fazer o cérebro criar. Escrever as cartinhas tem sido difícil, mas acabam saindo porque aqui tenho mais liberdade, são croniquinhas ou apenas algo doido que sai da minha cabeça, sem grandes pretensões. Mas tantas vezes abri aqui um conto começado e fiquei apenas de olhar estatelado encarando a tela, para desistir depois de quinze minutos…
E não são só textos. Comecei a re-arrumar as estantes (de novo), parei porque mudei de critério no meio do caminho. Comecei a arrumar o armário de papelaria, parei (eu acho que nunca vou usar metade do que tem lá, mas outro dia meu adolescente resolveu encenar o meme da cartolina domingo à noite e eu tinha cartolina!). Comecei a arrumar ou roupeiros, tirei uma quantidade absurda de coisa, que seguem empilhadas no meu “quartinho da Mônica” (quero levar para doação mas preciso de ajuda e de uma carona e não consegui nenhum dos dois até agora).
Meu pai costumava dizer que não basta ter iniciativa, precisa ter terminativa, senão a gente fica com um rabo de coisa arrastando atrás da gente.
Tenho me sentido assim, arrastando uma resma de coisa que tá me pesando, muitas delas só começadas na minha cabeça (arrumar a sala, enquadrar e pendurar os quadros).
Ao mesmo tempo, que bom ter tanta coisa começada, porque significa que estou criando algo, movendo coisas, sentindo a energia criativa querendo se manifestar de alguma forma. Por muito tempo essa energia ficou adormecida, apagada, hibernando, e agora que ela se mostra viva, não vou reclamar. Vou abrir meu rabo de iniciativas num colorido leque e aos poucos, encontraremos uma terminativa para cada uma.
Tatiana, nossa vida louca - de artistas, arteiros, criadores de mundos tantos - parece ser mesmo caótica, embora possa haver sentidos intrínsecos (um arqueólogo da arte, polímata e amante da teoria da complexidade, poderá um dia desvendá-los!).
A pulsão de vida (andei ouvindo Maria Rita Kehl) nos faz sair, o tempo todo, de nossas zonas de conforto ou acomodação. Inquietação, desassossego é combustível que nos leva, no mínimo, até à próxima esquina, de onde poderemos vislumbrar outros horizontes. Se estamos estacionados nos doces pântanos*** do ego ressentido, melhor é sair por aí aos tropeções ou se arrastando...
A ilusão de que organizados e despojados poderemos, um dia finalmente, nos tornarmos mais produtivos talvez seja uma mera impressão que desejemos tornar evidência... Assim somos, assim sejamos enquanto fizer bem (ou não incomodar tanto!).
Quanto às coisas a doar, aí sim, vale o esforço de mover mundos reais e fictícios para que o bem se espalhe além de nossas fronteiras. Se morasse aí a carona estaria garantida.
*** Neste pântano o que mais se ouve é: "Eles verão, eu vencerei!" "Ah, quando me descobrirem e o reconhecimento, finalmente, chegar..." "Se eu tivesse melhores condições, eu poderia...". Felizmente, isso tudo se manifesta de modo intermitente e, por isso, sobrevivemos! :)
amiga, é dificil dar conta das terminativas num mundo capitalista em que a gente tem que trabalhar até a exaustão para viver minimamente bem, maas, como minhas vozes intrusivas gospel dizem (e você também disse) pelo menos tá com ideias hehehe