Cresci num lar de muita fé. Minhas avós, cada uma a sua maneira, eram mulheres de fé e que podiam acessar o oculto. Meu pai foi criado naquele catolicismo à brasileira, com benzedeiras e ervas e missa e terço. Minha mãe, kardecista, tendo sofrido preconceito religioso da vizinhança e da escola católicas.
Eu, filha dessas duas vertentes, fui desenvolvendo uma fé e crença próprias, em parte também por ter sido da geração “Além da lenda” (taí uma coisa que entrega a idade), então me tornei uma pessoa que acredita, não digo em tudo, porque tudo é demais, mas em muita coisa.
Desde criança tenho o costume de rezar ao acordar e ao deitar, e continuo fazendo isso. Também rezo antes das refeições, algo que aprendi a fazer silenciosa e mentalmente, para evitar olhares, até do meu filho, que está numa fase bastante racional e descrente (e pode ser que essa fase não passe, eu sei, a vida é dele).
Há uns dois ou três anos (depois da pandemia eu não sei mais contar o tempo), tive uma crise e rompi com tudo — tudo, aqui, sendo as minhas práticas: alimentar meu altar, devoções e etc. — porque aconteceram coisas dentro desses grupos de fé e serviço e que me desapontaram demais, e eu apenas não conseguia ver como continuar.
Mas, mesmo durante a crise, continuei com minhas pequenas orações diárias. E na hora de qualquer desespero, chamava pelos nomes que me acompanham desde criança, e por outros que aprendi já mais velha.
Em muitos momentos da vida, foi essa fé que me deu amparo quando nada mais dava. E é curioso como, nos poucos dias que este ano já nos deu, passei por duas coisas bem pesadas e difíceis, e foram elas, principalmente, que me fizeram voltar. Levei um tombo seguido de outro pior e ali no chão, chorando e doendo, foi quando senti que precisava voltar.
Limpei meu altar, alimentei com incenso, limpei toda a sala onde fica esse altar, que é a sala que uso para práticas de yoga e meditação, mas que também é onde ficam os livros separados para venda, meu armário de suprimentos de arte e um tanto de outras coisas, e me sentei diante do altar. E foi como reencontrar uma amiga querida e derreter em seu abraço.
Nem sei mais o que tá na moda, se é ser místico ou rir dos místicos (e lembro bem a quantidade de abuso que sofri de gente que hoje é grandona nas redes sociais quando estava na moda rir da fé alheia, mas isso é outra história), mas tampouco me importa. Estas cartinhas são uma conversa minha com vocês, algo que eu diria enquanto tomamos um chá aqui em casa, rodeadas de gatos porque eles sempre querem colo e carinhos.
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Na próxima semana sai mais uma cartinha só para apoiadoras, e lembrem-se de que dá tempo de apoiar ainda e ter acesso a elas e ao desclube do livro 😊
Fé é o que tem me sustentado nas porradas da vida ultimamente.
Nem sei se é prática fazer isso, mas acho que carta é coisa de se responder e como essa falou comigo, cá estou. Fico feliz de você ter e ter reencontrado sua fé. Eu fui criada católica a sério, mas de um tempo pra cá entrei numas crises. Não de fé em si, mas de prática, se é que faz sentido. Mas acho que é isso, encontrar o que me aproxima em vez do que afasta...