É fundamental que as mulheres estejamos entre mulheres.
Nada nunca foi e nunca será equivalente ou suficiente a estarmos entre mulheres.
Esta semana ouvi relatos em diferentes grupos de que participo, vindos de mulheres que ou trabalham em áreas com presença massiva de homens, ou se mudaram e não têm ainda amigas na nova cidade, ou que no corre da vida acabaram se afastando do seu círculo de amigas. E todas estão se sentindo completamente solitárias, ainda que sejam casadas, ainda que tenham filhos, ainda que tenham família por perto.
Eu poderia falar de como nossos hormônios se ajustam durante a convivência com mulheres, muito além do já conhecido fato de que o ciclo menstrual regula. Poderia falar de como tem coisas na nossa experiência e vivência que só outras mulheres vão entender, que só nossas iguais sabem na pele e em suas cicatrizes o que é. Mas vocês já sabem.
Como emigrada e como pessoa que já morou por aí, sei que nem sempre é fácil criar um círculo de mulheres local. E depois de uma certa idade fazer amizades talvez fique, sim, mais difícil. Mas a gente consegue. Dá pra procurar um grupo de mães locais, ou se aproximar das mães da escola. Se inscrever em alguma atividade comunitária. Fazer uma aula de zumba ou de cerâmica. Visitar a florista do bairro.
Às vezes a gente só vai ter mulheres no grupo do zap. Não é igual dar um abraço e tomar um chá quentinho juntas em silêncio, nem gargalhar compartilhando histórias regadas a vinho. Mas já é algo, porque ali temos nossas iguais, que vão nos amparar de alguma maneira. Nos fazer ver que não estamos só. Nos enxergar.
Não se afaste da sua amiga que recém pariu e só fala do bebê. Nem da amiga cujo filho é “difícil”. Ou da amiga que tem que cuidar da mãe com demência. Daquela que está trabalhando tanto que só cancela os planos. Da recém-divorciada em crise. Da que acabou de se apaixonar de novo e só tem olhos e tempo pro novo amor. Não se afaste das suas amigas porque tem um novo amor. Visite suas amigas. Sempre que der, sempre que possível e viável. Torne viável e possível visitá-las.
Precisamos de nossas amigas. Todas elas.
As que estão perto e sabem das nossas dores, dificuldades. As que xingam junto quando o banheiro dá vazamento. As que te recebem na porta de casa sem perguntar “pra que a mochila?”. As que se oferecem pra ficar com seus filhos. A cuidar dos seus pets e plantas.
Faça planos com mulheres. Apoie os projetos de mulheres. Compre de mulheres. Fortaleça mulheres. Crie memórias. Piadas internas. Refine a arte de se comunicar só pelo olhar.
Ame mulheres e se faça amada por elas.
coma arroz tenha fé nas mulheres – fran winant
Coma arroz tenha fé nas mulheres
O que eu não sei
Eu ainda posso aprender
Se estou sozinha agora
Estarei com elas mais tarde
Se estou fraca agora
Posso me tornar forte
Lentamente, lentamente
Se aprender, posso ensinar as outras
Se as outras aprenderem antes
Eu devo acreditar
Que elas voltarão e me ensinarão
Elas não vão embora do país com seu conhecimento
E me enviarão uma carta em algum momento
Devemos estudar todas as nossas vidas
Mulheres vindas de mulheres
Indo para mulheres
Tentando fazer tudo que pudermos
Com as palavras
Em seguida, tentar trabalhar com ferramentas
Ou com nossos corpos
Tentando ficar o tempo que for preciso
Lendo livros quando não há professores
Ou quando eles estão muito distantes
Ensinando a nós mesmas
Imaginando outras lutando
Devo acreditar que nós estaremos juntas
E construir confiança o suficiente
Para que quando eu precise lutar sozinha
Eu saiba que há irmãs que
Ajudariam se soubessem
Irmãs que viriam
Para me apoiar mais tarde
Mulheres exigindo liberdade
Cada uma com suas necessidades
Nossa vida completamente dilacerada
Pela velha sociedade
Nunca nos dando o amor ou o trabalho
Ou a força ou a segurança ou a informação
Que nos poderia ser útil
Nunca ajudadas pelas Instituições
Que nos aprisionam
Quando precisamos de cuidados médicos
Somos abatidas
Quando precisamos da polícia
Somos insultadas e ignoradas
Quando precisamos de pais e mães
Encontramos robôs
Treinados para nos manter em nossos lugares
Quando precisamos de trabalho
Nos dizem para nos tornarmos parte do sistema que nos destrói
Alimento que nutre
Medicina que cura
Canções que nos lembram de nós mesmas
E nos fazem querer continuar com o que importa para nós
Vamos sair de novo
Encontrando as mulheres que saem pela primeira vez
Sabendo que esse amor faz uma boa diferença em nós
Afirmando uma vida contínua com mulheres
Devemos ser amantes médicas soldadas
Artistas mecânicas agricultoras
Todas em nossas vidas
Ondas de mulheres
Tremendo de amor e raiva
Cantando, nós devemos enfurecer
Beijando, virar e quebrar a velha sociedade
Sem nos tornarmos os nomes que elogiam
As mentes que pagam
Coma arroz tenha fé nas mulheres
O que eu não sei agora
Ainda posso aprender
Lentamente, lentamente
Seu eu aprender posso ensinar as outras
Se as outras aprendem antes
Eu devo acreditar
Que elas voltarão e me ensinarão
fran winant – Tradução por Marcella
Que lindo!!!
Ando muito mergulhada nessa filosofia de apoiar mulheres, estar cercada delas. Fomos socializadas para achar que as outras eram concorrência. Que mentira feia nos contaram. Hoje, quando mudo, saio logo à cata de um clube do livro, que em geral só tem mulheres (nem é que os homens não sejam bem-vindos, mas todos de que participo só têm mulheres - e gosto assim), aí já acho logo minha turma.