Gosto muito de séries, filmes e livros em que “nada acontece”, o gênero conhecido como slice of life, que eu traduziria como fração de vida. Acho uma delícia acompanhar algo que não é grandioso, porque no geral a vida não é grandiosa, né? E na correria, entre os problemas e os boletos, a gente acaba esquecendo do prazer que é coar um cafezinho com calma, ou apenas de esperar o tempo das coisas.
E as obras desse gênero me ajudam a lembrar de tudo isso; até o andamento da narrativa requer paciência e entrega: o plot não vai se resolver em poucos episódios, mas também não vai ter muita reviravolta.
Lembro bem da primeira vez em que assisti “Lost in translation”, que me recuso a chamar de “Encontros e desencontros”. Para além de sentir a angústia daquela jovem, sozinha numa cidade onde ela nem queria estar — e na época do lançamento do filme isso era algo que conversava com minha realidade, já que vira e mexe eu era mandada a Paris a trabalho (o que parece um sonho, mas não é, e isso é outra história) — lembro bem de como me tocou a amizade que ela forjou com aquele estranho, também perdido, também solitário, e que, pra mim, foi uma troca baseada em deixarem de ser invisíveis. Nada drástico acontece, acredito na possibilidade de eles realmente não terem nenhum envolvimento sexual, mas a realidade deles naqueles dias é transformada apenas por se encontrarem e se reconhecerem.
Recentemente, li Inverno em Sokcho, de Elisa Shua Dusapin (falei dele aqui), e o livro me trouxe a mesma sensação. Pelo menos durante o tempo da narrativa, dois estranhos confluem, encontram algo um no outro de que precisavam talvez sem nem saber.
Quantas vezes encontramos conforto no silêncio cúmplice de uma amiga com uma xícara de chá? Em apenas saber que alguém nos enxerga, que nossa dor é vista e acolhida? E quantas vezes a gentileza de uma pessoa desconhecida foi suficiente pra salvar o dia?
Nessa mesma pegada, vou deixar recomendação de duas séries, ambas disponíveis na Netflix.
Em “Não quero fazer nada”, a protagonista decide sair da máquina de moer gente da capital e vai em busca de uma vida mais simples numa cidade pequena. Logo que chega, ela conhece um bibliotecário e imediatamente um laço se forma entre eles.
Já em “Irei quando o tempo estiver bom”, a protagonista volta a sua cidade natal depois de algumas experiências complicadas na capital. Ali, ela reencontra um amigo de infância e também sua própria história.
Antes de encerrar a cartinha de hoje, queria dizer que agora meu blog está ativo, e por ali vai ter publicação de tradução de poemas, resenhas mais longas sobre coisas que assisto e leio, coisas que acho que não cabem por aqui. No fim da página, tem uma caixinha onde dá pra se inscrever e receber um e-mail sempre que alguma ideia doida for parar lá.
Fico por aqui. Até a próxima!
Como vc traduziria Lost in Translation? Fiquei curiosa :D
Não conhecia esse gênero. Acho que na correria dos dias, é uma delícia assistir só a vida acontecendo (na tela)...rs