Minhas amigas e amigos mais próximos já nem se espantam quando falo que me matriculei em mais um curso. Não digo que foi assim a vida toda, porque nem sempre tive tempo e verba disponíveis, mas sempre amei estudar e ocupar a cabeça, aprender coisas novas.
De criança/adolescente, estudei inglês, dança e música. Na faculdade, fiz todos os cursos de extensão possíveis. Depois de formada, estudei alemão. Nos anos morando na Irlanda, estudei francês, dança de salão, fotografia, dança do ventre, yoga. Primeiros socorros pediátricos. Head massage. E tive até o invejado e desejado certificado PMP da PMI (se você nunca ouviu falar, eu acho que te invejo um pouco, sim).
De volta ao Brasil, me formei em yogaterapia. Massagem ayurvédica. Fiz mil cursos de bruxaria, energia, reiki, terapias integrativas, aromaterapia.
Recentemente, pode-se dizer que estudei coreano por cerca de um ano e que estamos dando um tempo. Há dois anos, estou imersa em cursos de escrita, literatura, tradução, versão, revisão.
Inspira.
Expira.
Olhando tanta coisa nada ver jogada ali junta, parece loucura.
Mas é que eu sou uma mulher de fases. Ao menos eu achava que era. Na verdade, eu enxergava as coisas como fases.
Até hoje eu ainda brinco que estou definindo minha nova personalidade primavera-verão que será inaugurada no fim de agosto — como se fosse assim, né, escolher quem a gente é.
Mas, se a gente for pensar direitinho, não é que é assim mesmo? Tirando cursos e estudos que a gente faz por obrigação, porque precisa para o trabalho, para a carreira, sei lá, o resto a gente escolhe, sim. Se passei quatro noites de sextas-feiras acompanhada de mais meia dúzia de doidos que preferiram estudar a estrutura dos ensaios a fazer qualquer outra coisa; se passo três tarde de sábado do mês dedicada a cursos que vão durar o ano inteiro, em vez de pôr o pé pra cima vendo algo na Netflix, é porque eu escolhi entreter (ou complicar) meus neurônios exaustos aprendendo alguma coisa nova, ou aprendendo mais sobre algo que já conheço e de que já gosto.
E é claro que há outros aspectos, como mencionei já logo no começo desta cartinha: que luxo ter tempo para estudar algo depois da moedeira do dia, né. Eu tenho conseguido fazer tanta coisa porque trabalho de casa, não passo mais horas no transporte, como já fiz por muitos anos. E meu filho, agora um adolescente, já não precisa de tantos cuidados meus o dia todo, o que me libera várias horas do dia.
E tem a questão grana: pra gente poder investir (eu odeio essa palavra aplicada a cultura e conhecimento) em cursos, precisa sobrar uma grana pra além do básico. Não vou entrar aqui numa crítica ao sistema de moer gente que é o capitalismo, em como sobrar dinheiro no fim do mês é quase um enredo distópico, porque senão a cartinha não acaba hoje. E como acredito que ninguém que me lê é herdeira (se for, me chama no zap por favor!), todas sabemos bem como é fechar a planilha das contas do mês fora do vermelho — motivo para celebrar pedindo um lancho com fritas.
Já tive época de pensar que tinha “jogado fora” tanta grana e tempo estudando coisas que não uso, veja só, logo eu me cobrando com utilitarismo! Hoje, aprecio que cada curso que consegui começar, acompanhar e concluir foi uma pequena vitória. Olha só, vida, de novo eu consegui fazer algo por mim, algo que me preenche, me alimenta, me renova. Estudar me dá ideias, me faz tomar coragem de, por exemplo, escrever e publicar não só esta newsletter, como contos e crônicas que enviei para chamadas Brasil e mundo afora. Tudo o que estudei também me ajuda agora a saber qual músculo alongar quando dói algo, quais exercícios fazer e não fazer no período menstrual, que tipo de especiarias indicar para uma amiga de constituição mais vatta… Então, enquanto houver em mim curiosidade e vontade de saber mais do mundo, minhas amigas vão continuar me vendo falar: “Gurias, nesse dia não posso. Tenho curso!”.
Uau!! Que legal, Taty! Esse pensamento de que "temos que gastar nosso tempo/dinheiro em coisas úteis" acaba com a curiosidade das pessoas. Eu demorei anos para aprender (e ainda não sei se aprendi) a estudar por prazer coisas de que eu gosto. Agora... coreano? Caramba, deve ser bem difícil, hein...
Admirável! Terêncio te elegeria como musa. Avante com fase, sem fase, com mania ou sem... ;)